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1 Resistor Incomoda Muita Gente. 3 Resistores Incomodam Muito Mais ... By: tectonny Date: 14 Mar 2007, 22:10
Matéria publicada no Jornal Ícone em dez/2001

Sabem daquele dito popular que diz "ele não enxerga um palmo adiante do nariz". Pois é, quando as coisas estão muito na nossa cara a gente não enxerga, talvez por que fiquem fora de foco, não é mesmo.

O causo deste mês tem tudo a ver com o preâmbulo acima e aí quando a gente pensa que já aprendeu tudo vem um resistorsinho e nos derruba, E´ o forte morrendo na mão do mais fraco. Um amigo meu, o Renan, pegou uma Sharp C1413 que já havia sido despachada de outra oficina onde os caras tinham jogado a toalha.

O TV ligava com tela cheia e em seguida reduzia o quadro nas laterais até parar completamente.

Por onde começar ? Como nós temos uma tendência a sermos "técnicos analógicos", pela fonte, é claro.

Em stand by estava lá tudo bonitinho, os 115, 14 e 12 volts.
Era só apertar a tecla power para a fonte de 115 volts cair para 85 e começar a variar.
Neste momento a dúvida que deve ter se passado na cabeça do meu amigo era saber o que veio primeiro, o ovo ou a galinha. Trocando em miúdos: "alguém" estava "derrubando" a fonte ou era a dita cuja que não estava lá muito bem das pernas (ou dos resistores !) ?

Pra tirar está dúvida o caminho mais óbvio, que eu seguiria e recomendaria, era desligar tudo que estivesse pendurado na linha de 115 Volts e colocar uma carga externa nesta linha. Meu amigo pensou igualzinho a mim e fez isso colocando um resistor de 560 ohms/20 watts como carga dos 115 volts.

Só que eu teria colocado uma lâmpada incandescente de 25 ou 40 W (é mais barato que o resistor).
A fonte agüentou o tranco o que parecia indicar que ela estava boa e o problema estaria no estágio horizontal ou vertical, já que eles são os maiores comedores de Ampéres em um televisor.
Qualquer um, que enxergue um palmo adiante do nariz, concluiria isso. Só que o defeito estava mais perto do nariz do que um palmo e aí ... o meu amigo não viu.
Já que o chapeado do impresso é verde vamos aproveitar para pastar um pouquinho.
Traído pela lógica, meu amigo foi procurar chifre em cabeça de burro. Vasculhou tudo na área do horizontal e do vertical e não encontrou nem o chifre (na cabeça do burro e que fique bem claro, eu não estou me referindo ao meu amigo) muito menos alguma coisa errada com o horizontal e o vertical.

Neste momento ele começou a perceber que o teste da carga na fonte pode não produzir um resultado 100% confiável.
Resolveu então seguir outro caminho.
Desligou as fontes de 115 e 12 do tv e colocou fontes externas, tomando o cuidado de ligá-las via lâmpada em série.
Aliás, pra quem ainda não acredita em lâmpada em série, volto a insistir que embora elas não sejam infalíveis, podem ajudar e muito (veja dica neste site).
O que você acha que aconteceu quando o televisor foi alimentado com fontes externas ? Deixa de ser pessimista e querer me derrubar, tá legal.

O TV funcionou perfeitamente.. viu!
Neste momento um técnico da terrinha de além mar poderia pensar em entregar o tv com as fontes externas penduradas, mas talvez este procedimento não agradasse muito ao dono do aparelho e o jeito era continuar pastando.

Pelo menos uma coisa agora era certa: - o defeito estava na fonte.
Abrindo um parênteses e fazendo um pouco de suspense antes de acabar a estória (afinal eu preciso encher a folha do jornal) podemos dizer que os dois métodos utilizados (carga na fonte e fonte externa) nos ajudam a encurralar o defeito e sanar a famosa dúvida do ovo e da galinha. Certo que o defeito estava na fonte, meu amigo partiu com unhas e dentes (e ferro de solda e multímetro também) para a mesma e já foi logo trocando o IC 701 e o FET Q701 e ... quebrando a cara (ainda bem senão a estória acabaria aqui e ficaria sem emoção).

Embora seja muito fácil dar palpite na vida alheia, eu particularmente, acho que não teria sido tão radical em condenar logo de cara o C.I e o FET.

Creio que o meu sexto sentido digital mandaria analisar o amplificador de erro e os periféricos do oscilador no IC 701.

Eu sinceramente pensaria, e pensaria errado, (veremos adiante por que) que o PWM estaria trabalhando fora de freqüência ou o amplificador de erro não estaria conseguindo corrigir variações de tensão na saída provocadas por variações de consumo.

Pode-se tirar daqui uma grande lição: - Uma coisa é uma carga fixa produzida por um resistor, outra coisa é uma carga variável que o televisor produz com suas variações de brilho, por exemplo.

Na verdade eu ainda não havia parado para pensar nesta hipótese e tenho recomendado sempre que se coloque uma carga para testar a fonte como se isto fosse uma solução realmente definitiva.

Este exemplo nos mostra que não é bem assim, portanto como disse o seu ex-presidente (eu não votei nele !) "esqueçam o que eu disse" .

Em outras palavras colocar uma carga na fonte pode ajudar um pouco, mas não totalmente, portanto não é uma solução absoluta e sim relativa.
Alias, Einstein já provou que nada é absoluto e sim relativo.

Parando de enrolar e voltando ao defeito, meu amigo começou a medir componente por componente no primário da fonte já que no secundário não tem quase nada.
Neste momento acho até que esta poderia ser uma boa solução, mas é preciso que deixemos a preguiça de lado e soltemos um dos terminais de cada resistor, capacitor ou diodo a ser medido, caso contrário existe uma enorme possibilidade de obtermos resultados falsos. E foi exatamente isto o que aconteceu.

Como dizia um amigo meu, que já foi dessa para melhor: - " a preguiça é a mãe do pecado" (ele era católico de carteirinha).

Certamente você não daria muita bola para resistores de 1 ohm e ao medi-los, soldados na placa, não se preocuparia muito com o valor encontrado, a menos que revelassem um valor muito mais alto.

E se fossem três resistores de 1 ohm em paralelo ? (tá começando a desconfiar onde eu fui buscar o título da matéria?)

Bem, três resistores de 1 ohm em paralelo nos dão 0,333 ohms, não é mesmo?
E que diferença faz 0,333 ou 0,5 ohms ? Sim, por que se um destes resistores abrir, será este o "novo" valor do conjunto.

Se você olhar, no circuito, para o supridouro de Q701 verá que lá existem três resistores em paralelo (que incomodam muita gente! ) de 1 ohm cada um (R725/726/727). Basta um desses resistores abrir ou se alterar para que a corrente no FET aumente, descompensando a fonte.

Se a carga na fonte for constante talvez não tenhamos problema, entretanto quando a carga sofrer variações bruscas o PWM não acompanhará porque a corrente de supridouro se alterou em função do novo valor do resistor.

Preciso dizer onde estava o defeito ou você já "adivinhou" ?
Exatamente, (pra quem não tem poderes de adivinhar) um dos inofensivos resistores de 1 ohm estava aberto e numa medição superficial com os bichinhos soldados na placa a diferença se mostrara imperceptível.

Espero que este causo nos sirva de lição e que daqui pra frente três elefantes continuem incomodando muita gente, mas três resistores ... jamais!

Ah! deixe de ser preguiçoso e dessolde os componentes na hora de medi-los.
Lembre-se, como dizia meu amigo, a preguiça é a mãe do pecado.

Que o ano de 2004 seja repleto de resistores de 1 ohm abertos para vocês ganharem muito dinheiro e ... continuarem fazendo os meus cursos.


Fonte: AVBRITES
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